19/11/2007

Tatuagens Nominais

Das primeiras coisas que nos são dadas quando nascemos, para além das bofetadas nas nádegas e dos apalpões na planta dos pés (talvez essas cócegas intempestivas sejam uma tentativa frustrada de contrariar a choradeira), são os nomes próprios!


-"Então tu és o Miguel!...", diz a enfermeira ajudante que já sabia que o nome escolhido ia ser aquele desde que a mãe deu entrada no hospital.



Depois da terrível compressão parietal e do cansaço respiratório, o, agora e lavado, Miguel aceita-se nos confortos alternativos da manta esterilizada e do colo da progenitora. Com os olhos filtrados pela felicidade e pelo alívio, a mãe acha-o bonito e exclama quão perfeitinha lhe parece aquela obra a que muitos gostam de chamar divina. Divino ou não, o Miguel passou a ser, definitivamente, Miguel!...

Arrisquei este exórdio fictício para situar o leitor na próxima divagação e tentar fazê-lo concordar comigo na resposta à seguinte questão: "Não estaremos a fazer uma espécie de tatuagem nominal definitiva a uma criança, quando lhe atribuímos um nome próprio!?" Pois parece-me que sim! Não estou a dizer que conheço melhor alternativa, até porque seria inútil perguntar ao bebé qual era o nome que ele preferia.


Desenvolvo. Sem querer estar a ser determinista e porque também nem gosto de adjectivos que acabem em "ista", parece-me que existem três grupos de pessoas que se tatuam. Um primeiro, referente àquelas que, por um motivo qualquer, decidem fazer apenas uma gravura permanente, motivada por um qualquer desejo de promessa ou objectivo! Um segundo grupo que diz respeito àqueles que apenas querem decorar o corpo, mesmo que isso signifique gastar metade do ordenado mensal (neste segundo grupo estão alguns daqueles que eram do primeiro mas ficaram viciados no acto de tatuar o corpo - soube há pouco tempo que se pode ficar viciado neste tipo de acções). E, finalmente, um terceiro grupo que reúne as pessoas que querem, assumidamente ou não, dar nas vistas resolvendo camuflar a pele e o ego com representações variadas querendo, com isso, dissimular uma fraqueza - não tenho nada contra, nem a favor.




Apesar da diferença óbvia entre a pessoa que se tatua e a pessoa que dá um nome a alguém, se repararmos, existem hoje em dia semelhanças na comparação que vou apresentar de seguida. Se quisermos, e sem qualquer malícia subjacente, podemos formar três grupos de pessoas de acordo com o nome que lhes foi "tatuado" à nascença: No primeiro estão inseridos os nomes clássicos isolados e/ou pouco usuais nas grandes metrópoles (Olegário, Raimundo, Belmiro, Leopoldina, Gertrudes, Rosália, Marcelina, etc.). Num segundo estão aqueles, compostos ou não, mais usuais e a partir dos quais não se consegue adivinhar a origem social (João, Miguel, Pedro, Gonçalo, José, Rita, Ana, Inês, etc.) Existe finalmente um terceiro referente àqueles nomes que, pretendendo na maioria dos casos ostentar a origem "nobre", se inspiram em listas régias (Afonso, Guilherme, Martim, Sebastião, Beatriz, Leonor, etc.).


É certo que existem excepções no agrupamento nominal que fiz. Mas julgo que não ando muito longe da realidade se disser que há, de facto, uma semelhança entre o tatuador e o nomeador - a perpetuação definitiva de uma marca pessoal. O que acontece é que o sujeito que se tatua, fá-lo por opção numa determinada altura da vida. Já o nome que lhe foi "tatuado" não teve o seu consentimento.


Vamos lá, esta temática até nem é muito importante. Mas, convenhamos, importa bem mais que a vitória dum fulano numas eleições internas e partidárias.

1 comentário:

Unknown disse...

ja que vc copiou e colou a minha foto ,por favor ponha meus creditos e se possivel o link da minha pagina no seu blog ,de qqr forma obrigado por prestigiar nosso trabalho e usa-lo para ilustrar suas palavras...
um abraço Pablo
http://www.flickr.com/photos/pablodellic/sets/72157594301665181/