25/11/2008

De baraços cruzados

Um autor conta o se calhar sem que a regra diga, e a noção cale. Com a decisão de respeito, gosta de prosar para a fotografia para se sentar mais feliz.

Com a escrita o autor lava o reflexo, seja de espírito, de alma, de espelho da calma... E exalta vontades latas de encómios - porque ninguém escreve para si.

Um sujeito pré-indicado complementará um discurso directo na circunstância de um lugar e de um tempo, participando no presente para se tornar autor. E sem ter a certeza do que o torna e torneia só pode, como todos, chegar ao ponto final que diz que só o futuro é que é puro e seguro porque incerto. Maduro.


E se os baraços se cruzassem e a escrita não se fizesse?

24/11/2008

Advérbios de Moda

Já se sabe que todos nós temos as nossas próprias maneiras de falar com os respectivos tiques e toques na fala, produto às vezes de articulações e ligações, quais ligamentos e pontes, para que o discurso se faça sem barreiras. Mas há limites! Ou se calhar até nem há?...

Longe vai o tempo que o "Pá" era descoberto como ponto final do discurso, para depois passar a ser usado mormente numa frase de orador pretensamente porreiro que transferia, conscientemente, para o seu produto de raciocínio discursivo um carácter de condescendência e tolerância vestida de alguma comédia. Não é assim, pá!...

Ainda há bem pouco tempo nasceu um novo tipo de Tipo, fulano linguístico indefinido, usado para o exemplo conclusivo de uma conversa mais ou menos interessante... "Tipo" esta! Para além de conversas técnicas que usavam o substantivo convenientemente, por exemplo para a divisão dos peixes (de Tipo X), o "Tipo" já era somente usado para equivaler à expressão "Como por exemplo...". Ora aqui estava uma descoberta feita por um tipo qualquer, que se lembrou que o "Tipo" era uma forma (boa!?) de desenhar a ideia. Mas se fora descoberto como articulação, pessoas há que já o usam como travessão:

- "Tipo... se formos lá hoje, o gajo arranja-nos aquilo, pá!"

Ainda nos estávamos a adaptar ao "Tipo" e, sem mais (imaginação) nem menos (demoras) apareceu um outro:

Apresento-vos o "Basicamente". Reconhecem-no? Isto é "basicamente" o que se diz nos últimos tempos. Da imprensa ao ensino, os intervenientes já usam o "basicamente" como se fosse uma vírgula.

Se há coisas que me irritam ultimamente, e sem querer chamar coisa ao senhor o Paulo Bento é uma delas, o "basicamente" é para mim uma tendinite do movimento da fala propensa à ira momentânea que me faz tartamudear ainda mais.

Insurjo-me contra esta forma autista de estereotipar discursos e de, como a moda, produzir têxtil massivo que possa ser usado por todos - com a diferença de que nesta não se escolhem cores e tamanhos. Talvez o único tamanho disponível nas lojas senso comum para esta expressão seja o XU (Extra Used).

Por isto propunha que se inventasse uma nova classificação gramatical para estas palavras: Advérbios de Moda.

"Era basicamente só mais uma classificação, ... Tipo aquelas que um gajo estuda na escola!"

Desculpem mas não resisto! Só mais esta:

"...Tipo, iá! Tás a ver? Basicamente é isso!"

21/11/2008

Sismulacro

Caros cidadãos,

Hoje, dia 21 de Novembro de 2008, vamos simular que não estamos em crise! A partir das 15h 00m o país, mais concretamente a área da grande Lisboa vai entrar em crescimento económico súbito até Domingo.

Vamos todos fazer de conta que o capitalismo assente em mecanismos especulativos vai começar a dar frutos, que as grandes empresas vão ganhar ainda mais poder e autonomia financeira, e que alguns senhores dirigentes de grandes bancos e gasolineiras irão retribuir justamente os excelentes investimentos estratégicos e irão devolver dinheiro a todos os seus clientes.

Vamos todos dar as mãos e saudar o capitalismo com "Urras" e "Vivas" e fazer de conta - relembro, até Domingo - que vivemos de forma folgada e próspera.

Portugueses, Simulemos uma vitória económica na Cidade Capital deste rico país.

José Sócrates

- "Pronto, acabei! O que achas desta ideia?"

- "Ó senhor Primeiro Ministro, se me permite... Talvez seja melhor simular um sismo! Sempre testávamos a capacidade de reacção da Protecção Civil, enquanto calávamos muitos cientistas que afirmam há não sei quantos anos que estamos mal preparados para um tremor de terra de grandes proporções! Por outro lado, a ideia não era tão assustadora!"

- "Efectivamente tens razão! Um sismo sempre era mais realista. Para além disso, não tenho a certeza se os Portugueses aguentavam três dias inteiros de felicidade! É que simular tal situação é muito difícil! Então e pomos o epicentro onde? Ali no Banco de Gorringe como em 1755?"

- "Talvez não! Se calhar era melhor uma coisa mais regional! Ali em Benavente como em 1909, por exemplo! Assim limitávamos esforços sem obrigar a Protecção Civil a trabalhar muito, e não incomodávamos turistas algarvios resistentes ao frio. Uma coisa que implicasse só as Câmaras de Santarém, Benavente e Lisboa!... O que é que diz?"


- "Isso mesmo! Óptima ideia! Põe esse plano em marcha e começa já a emitir comunicados! Até calha bem porque como hoje é greve da função pública até nem vamos incomodar muita gente!"

- "E o Senhor Primeiro quer mais alguma coisa?"

- "Não é tudo! Agora deixa-me escrever aqui uma carta ao Major-General Arnaldo Cruz da ANPC a pedir desculpa pelo incómodo, que daqui a bocado vai começar o minuto verde e eu quero ver se não perco a dica de hoje!"