21/07/2009

Boa noite

Estivemos irmãos, manos e mana - e tu Joana, numa noite que se tornou bela depois de um dia monstro e parvo da escrita adiada.

Temperaturas, risadas, chás gelados e paródias foram suficientes para me mudar o viso que, sem aviso, vieram para me dar boa noite.

Depois disso um beijo, conversa, uma prenda e uma promessa.

Deixem-me agradecer-vos o sorriso que me apetece dar agora mas com palavras porque me falta engenho de figura.

Tomem lá este sorriso estampado deste muito afortunado.

Obrigado.

20/07/2009

Naïfadas de culpa (parte 1)

Às vezes faço de contas de cabeça.

Sem matemáticas e práticas as ideias que me fintam o raciocínio são às vezes verdadeiras naïfadas profundas e, ainda que inocentes, suficientemente fortes para me impedirem de continuar a escrever uma tese.

Diurnas ou nocturnas e por vezes naïfs, são ideias inoportunas de sonhos a curto-prazo que me empurram a vontade para o chão sem me dar de novo a mão para me ajudar a levantar o dever.

E depois de mais uma interjeição que tem mais um "R" que a ira, lá tenho eu que voltar a pegar no motivo do objecto e torná-lo objectivo. Matuto...Matuto... E lá se vai a força matutina.

Dou alguns exemplos de naïfadas:

O trabalho cancelado em Espanha; o início da provável calvice; o constante estado de parvoíce; a venda e compra de carro; os desenhos no museu; os cães que mataram um pássaro; as horas fechado em casa; a bolsa que não chega; o tempo que vai passando; as noites que não ficam quentes; a fome de coisas que não há no frigorífico; as férias que quero fazer com Ela; o beijo que lhe quero dar; a doença na família; uma provável estada austral; o que falta fazer; o que não apetece; o que apetece; o que aquece; o que merece; o Sporting (ah ah ah); o tecto e a parede; a Internet e o YouTube; as 18 horas...

Distracção... Espera aí um bocadinho! Agora não dá!

Mas até já.

02/07/2009

Gripe da Crise

- “ Mas eu ainda não lavei as mãos! A professora disse que agora temos que lavar mais as mãos por causa do vírus!”


- “Lavas quando chegares ao infantário! Come isso depressa que a mãe está com pressa!”


A Marta suspirou os 3 euros para cima do balcão e ainda nem tinha acabado de comer o rissol. De boca cheia e com o resto do salgado preso nos lábios diz “Obhigaho” à dona do café, baixa-se para vestir o casaco ao Martim com postura torta para a carteira não cair e apressa-se para o carro – que já é tarde e o IC19 não perdoa depois das 8 e 30m.


Dez buzinadelas mais tarde e a micro-família já avista infantário.


- “Mãe, sabias que o Tomás está doente?”

- “Quem o filho da professora?”

- “Não, o filho da Maria João que veio cá a casa ontem”

- “Coitadinho, com o quê?”

- “Gripe.”


“Deve ser das porcarias que a mãe lhe dá” – pensa a Marta enquanto faz a última rotunda e põe o rádio mais alto para ouvir as notícias das 9. Enjaulado o Martim, lá vai a mãe nervosa por causa da entrevista. Contorna aquela rotunda, faz o mesmo com mais algumas e o profissional da rádio informa, numa notícia que não dura mais que 20 segundos, que foi confirmado mais um caso de Gripe-A numa criança de Queluz. Logo a seguir o mesmo comprimento de onda, mas já noutra onda de seriedade, começa uma reportagem com um economista a falar sobre o desemprego. Marta aumenta ainda mais o volume do rádio porque, isto sim, interessa. Afinal de contas, e era com contas que ela se preocupava, havia sido despedida há duas semanas da empresa por causa de cortes orçamentais.


Marta ia agora ter uma entrevista noutra empresa. Chegada depois de uma maratona de condução, pedem-lhe para (des)esperar numa sala de 2 metros quadrados decorada com cartazes alusivos às novas precauções de higinene e segurança no trabalho.


Lave bem as mãos! Espirre para um lenço e assegure-se de que não o faz perto de colegas! Lembre-se que o seu bem-estar é o bem-estar dos outros!


O único anúncio que Marta lê é aquele mais pequeno, isolado e pouco colorido que diz que se procuram contabilistas.


São agora seis e meia da tarde e a mãe Marta já traz o desencarcerado Martim. Triste porque não ter sido aceite na empresa, manda calar o filho que se queixa numa birra porque lhe doi a garganta.


...


António, director de uma empresa de contabilidade, acabou de deixar a filha na escola e liga de novo o carro para ir trabalhar. Na rádio ouve a notícia que foi detectado o segundo caso de Gripe-A em Queluz. O sedundo em dois dias, e noutra criança! António muda de estação e nem ouve o resto das notícias – “Não me posso esquecer de ligar ao Pinto por causa do empréstimo!”