29/11/2007

Não faz mal nenhum...Mas chateia-me

Mandar pontapés na gramática é prática corrente nos dias de hoje. Seja em textos escritos, seja na fala quotidiana ouvem-se cada vez mais erros comuns.



Há tempos fui fazer análises e a médica disse-me, quando soube que eu era arqueólogo, que o que a fascinava mais era a "filigrama" grega e romana! Que diabo! Estava à espera que uma médica, que em princípio é mais instruída que um varredor de rua, dissesse filigrana, ou que, pelo menos, se calasse para não dizer disparates.



E mais... a páginas tantas ainda rematou com outra bujarda. Numa das visitas dela a Roma viu umas ruínas que o guia que a acompanhou disse terem sido "Bordéus" (em vez de bordéis). O guia até deve ter dito bem. Ela é que não!



Para além destas pequenas grandes coisas que me fazem logo rotular pessoas que não conheço de uma forma rapidamente involuntária, ainda há outras que, apesar de não serem tão graves, me irritam. Não por serem propriamente erros de gramática mas por serem falta de esforço na dicção oral.



Por que raio é que há pessoas que insistem em dizer "Salchichas" em vez de Salsichas e "Manchéchetér" em vez de "Manchéçetâr" (Manchester). É que o que aqui me irrita é o facto de, na maior parte dos casos, elas até saberem como é que se escreve. Só não se importam com o facto de parecerem idosos de 90 anos sem placa a pronunciar palavras...



E nem estou a falar das "Chalchichas"...

"Chiça!" (e não chixa) será assim tão difícil falar pelo menos com cuidado!?...

21/11/2007

Arqueossismologia - primeiras referências nacionais!?

De há dois anos a esta parte tenho dedicado a minha investigação à Arqueossismologia. Desta investigação resultou um artigo que será brevemente publicado numa revista ainda a definir.


Mas quero fazer um elogio a um recente colóquio a que assisti. A palavra de elogio dirige-se a todos aqueles que contribuíram para a sua realização - desde a sua organização até aos próprios comunicadores.

O II Encontro de Arqueologia da Arrábida, numa homenagem ao arqueólogo A. I. Marques da Costa, focou-se numa abordagem panorâmica de muitos dos trabalhos que se têm vindo a desenvolver na região do distrito de Setúbal mas, e é aqui que quero chegar, destacou-se pela referência à hipótese arqueossismológica para a destruição de alguns sítios conhecidos, nomeadamente do período romano.

Embora ainda pouco sustentada, a arqueossismologia começa a ser posta em prática e a sua aplicabilidade definitivamente reconhecida.

Pelas pessoas do Doutor Carlos Tavares da Silva e Doutora Françoise Mayet a hipótese sísmica para a destruição e abandono de alguns sítios costeiros do período romano, sustentada a partir de níveis arqueológicos balizados cronologicamente entre o final da segunda metade do sec. II d.C. e os início da primeira metade do sec. III d.C., tomou forma numa apresentação bastante equilibrada e coesa sob o ponto de vista científico, uma vez que se baseou na comparação crono-morfológica de níveis arqueológicos de abandono idênticos.

Tenho, contudo, uma opinião muito pessoal e restrita em relação a essa abordagem hipotética (aliás só a afirmo aqui porque também já o havia feito pessoalmente à Doutora Françoise Mayet embora de uma forma mais resumida). A minha opinião em relação à hipótese, ainda que bastante tentadora, de abandono daqueles sítios arqueológicos por causa de um forte sismo seguido de um tsunami, é ainda um pouco precipitada. Apesar de se basear em fontes seguras que afirmam e comprovam a existência de um forte episódio sísmico no golfo de Cádiz, mais concretamente na cidade romana de Baelo Claudia, ainda não foram encontradas provas arqueossismológicas de um evento como este noutros sítios costeiros do mesmo período mais a sul do nosso território, factor que seria essencial para suportar a teoria de um sismo com epicentro no oceano atlântico e que teria afectado toda a costa SW da Península Ibérica. Segundo o artigo de P. G. Silva et al (2005) - Archaeoseismic record at the ancient Roman City of Baelo Claudia (Cádiz, south Spain), o epicentro sísmico que destruiu a cidade romana de Baelo terá sido, em princípio, na zona de Gibraltar.



Para além disso este artigo ainda refere outros dados que não jogam a favor da recente teoria luso-francesa: foram encontrados vestígios de destruição sísmica que apontam para dois episódios diferenciados - um por volta de 50 d.C. e outro por volta da segunda metade do século IV d.C. Muito embora tenham deixado em aberto a hipótese de um epicentro mais afastado da costa de Cádiz - talvez no atlântico -, e até façam referência à eventualidade de toda a costa SW da Península Ibérica ter podido observar diversos episódios sísmicos ao longo da história, os autores desse artigo preferem enveredar por uma hipótese mais localizada para a origem das duas catástrofes.

Concluindo, nem as datas apresentadas para os sítios romanos no actual território português (numa área que se estende desde Setúbal até Sines) se coadunam com as da cidade de Baelo, nem a hipótese do epicentro sísmico comum para a destruição das duas zonas (Setúbal e Cádiz) se verifica muito provável. Contudo, relembro que os autores do referido artigo não afirmaram categoricamente a sua certeza quanto ao local do epicentro sísmico. Basearam-se apenas em probabilidades geologicamente atestadas.

Ainda assim queria deixar aqui espelhado o meu agrado pelo esforço multi-disciplinar efectuado pelos intervenientes e pela forma como foi proposta tal teoria que para muitos ainda é extraordinariamente estranha. De uma forma leve, mas nem por isso leviana, foi tocada pela primeira vez em Portugal e num congresso a que isso não se prestava, a hipótese arqueossismológica para a destruição de um sítio arqueológico, ou, neste caso, de vários sítios do mesmo período.

A arqueossismologia, ou por outra o estudo do impacto dos sismos em sítios arqueológicos, começa a ser posta em prática e a sua utilidade efectivada nos estudos e trabalhos de arqueologia em Portugal.


Apraz-me saber que o meu esforço de divulgação deste ramo da geoarqueologia não foi inútil, muito menos inoportuno!

19/11/2007

Terminal em obras!

O Terminal está de volta mas temporariamente mais desconfortável!


Antes de começar a ordenar aqui mais letras vou primeiro explicar porque é que não tenho vindo ao Terminal terminar ideias (perdoem-me o pleonasmo cacofónico). Nestes últimos tempos tenho estado ocupado (trabalho; mestrado; saídas; chegadas...). Para além de ocupado, desinspirado! Para além de desinspirado, chateado.


Sim, e até mais que chateado, irritado com o "meu" clube de futebol. Não é preciso dizer que o Sporting anda a jogar mal e com pouca vontade (com excepção do jogo INTERNACIONAL com a Roma).


Fátima, Braga... Se isto continua assim e se o Sporting resolve começar a jogar mal contra todos os clubes pertencentes a cidades que tenham Sés e monumentos a "Nossa" Senhora... Estamos tramados, ou não fossemos nós um país profunda e vincadamente católico - apesar dos muitos não praticantes.


Por falar em não praticantes, há dias, em conversa de família, cheguei à conclusão que o Papa Benedito XVI (ou Bento pós tugas) disse a primeira coisa correcta até hoje. Parafraseando o procurador de Deus: "Não compreendo como é que podem haver católicos portugueses não praticantes!"


Concordo plenamente!


-"Epá eu!?... Eu sou católico não praticante!"

-"Não praticante? Como assim!?

-"Atão, acredito em Deus mas não vou à igreja nem rezo habitualmente! Não preciso de rezar para acreditar em Deus!"


Acho que se pode mudar esta pequena conversa para uma coisa do género:

-"Epá eu!?... Eu sou nadador não praticante!"

-"Não praticante? Como assim!?

-"Atão, acredito que sei nadar mas não vou à piscina nem nado habitualmente! Não preciso de nadar para acreditar que o sei fazer!"


Enfim, o extrema e católicamente ortodoxo Ratzinger lá mandou uma para a caixa. Mas afinal de contas que história vem a ser essa de católico não praticante. Ou se pratica, ou não se pratica! Ou se nada, ou não se nada! E mais nada!



A propósito do nada e voltando ao início quero deixar um conselho ao Senhor Paulo Bento: tente colocar em campo um onze habitual. Não sei!... Assim de repente, e aqui para nós que somos só nós, o Sporting até podia começar a habituar-se a JOGAR EM EQUIPA!!! E não me venham com a desculpa das lesões porque as que houve foram logo no início da época.


Com tanta experiência até pode ser que a gente experimente não ganhar mais uma época! Ãh!!! Ora vamos lá experimentar!...



Ou serão os jogadores do Sporting não praticantes!?...

-"Não praticantes? Como assim!?

-"Atão, acreditam que sabem jogar mas não jogam habitualmente! Não precisam de jogar bem para acreditar que o sabem fazer!"

Tatuagens Nominais

Das primeiras coisas que nos são dadas quando nascemos, para além das bofetadas nas nádegas e dos apalpões na planta dos pés (talvez essas cócegas intempestivas sejam uma tentativa frustrada de contrariar a choradeira), são os nomes próprios!


-"Então tu és o Miguel!...", diz a enfermeira ajudante que já sabia que o nome escolhido ia ser aquele desde que a mãe deu entrada no hospital.



Depois da terrível compressão parietal e do cansaço respiratório, o, agora e lavado, Miguel aceita-se nos confortos alternativos da manta esterilizada e do colo da progenitora. Com os olhos filtrados pela felicidade e pelo alívio, a mãe acha-o bonito e exclama quão perfeitinha lhe parece aquela obra a que muitos gostam de chamar divina. Divino ou não, o Miguel passou a ser, definitivamente, Miguel!...

Arrisquei este exórdio fictício para situar o leitor na próxima divagação e tentar fazê-lo concordar comigo na resposta à seguinte questão: "Não estaremos a fazer uma espécie de tatuagem nominal definitiva a uma criança, quando lhe atribuímos um nome próprio!?" Pois parece-me que sim! Não estou a dizer que conheço melhor alternativa, até porque seria inútil perguntar ao bebé qual era o nome que ele preferia.


Desenvolvo. Sem querer estar a ser determinista e porque também nem gosto de adjectivos que acabem em "ista", parece-me que existem três grupos de pessoas que se tatuam. Um primeiro, referente àquelas que, por um motivo qualquer, decidem fazer apenas uma gravura permanente, motivada por um qualquer desejo de promessa ou objectivo! Um segundo grupo que diz respeito àqueles que apenas querem decorar o corpo, mesmo que isso signifique gastar metade do ordenado mensal (neste segundo grupo estão alguns daqueles que eram do primeiro mas ficaram viciados no acto de tatuar o corpo - soube há pouco tempo que se pode ficar viciado neste tipo de acções). E, finalmente, um terceiro grupo que reúne as pessoas que querem, assumidamente ou não, dar nas vistas resolvendo camuflar a pele e o ego com representações variadas querendo, com isso, dissimular uma fraqueza - não tenho nada contra, nem a favor.




Apesar da diferença óbvia entre a pessoa que se tatua e a pessoa que dá um nome a alguém, se repararmos, existem hoje em dia semelhanças na comparação que vou apresentar de seguida. Se quisermos, e sem qualquer malícia subjacente, podemos formar três grupos de pessoas de acordo com o nome que lhes foi "tatuado" à nascença: No primeiro estão inseridos os nomes clássicos isolados e/ou pouco usuais nas grandes metrópoles (Olegário, Raimundo, Belmiro, Leopoldina, Gertrudes, Rosália, Marcelina, etc.). Num segundo estão aqueles, compostos ou não, mais usuais e a partir dos quais não se consegue adivinhar a origem social (João, Miguel, Pedro, Gonçalo, José, Rita, Ana, Inês, etc.) Existe finalmente um terceiro referente àqueles nomes que, pretendendo na maioria dos casos ostentar a origem "nobre", se inspiram em listas régias (Afonso, Guilherme, Martim, Sebastião, Beatriz, Leonor, etc.).


É certo que existem excepções no agrupamento nominal que fiz. Mas julgo que não ando muito longe da realidade se disser que há, de facto, uma semelhança entre o tatuador e o nomeador - a perpetuação definitiva de uma marca pessoal. O que acontece é que o sujeito que se tatua, fá-lo por opção numa determinada altura da vida. Já o nome que lhe foi "tatuado" não teve o seu consentimento.


Vamos lá, esta temática até nem é muito importante. Mas, convenhamos, importa bem mais que a vitória dum fulano numas eleições internas e partidárias.