23/11/2009

Rimar com memória

A vitória tem-se num desafio.
Ou é enlevada a glória
Ou queimada na escória
Por não haver mais pavio...

A vitória na guerra é morte;
No jogo são gritos; no amor é sorte e...
...Pequenos prazeres da memória
Daqueles que se vêem aflitos
Por ver que passa a sede corpórea
Enquanto se mantêm os ritos.

Haja vontade e força, então,
Para plantar mais razão...
E que nasça uma planta visória
Na paisagem arbórea
Que pode ser relação.

Não fosse cunho e vergão,
E esta fatídica história
Não passava de pregão
Ou de lembrança irrisória.

18/11/2009

A pipoca mais doce ou como se faz um Bodelogue

Falo de um blogue, mais diário que um Jornal e menos cheio de conteúdo que um bolso de operário. Falo do sítio da pipoca mais doce.

Nesse "bodelogue" podem ler-se anedotas, dicas de moda feminina, conselhos de gestão financeira de recurso, e até pequenos desabafos de autora. Podem ler-se linhas de escrita cria...tura!

Longe de me querer tornar num crítico entendido, é a minha condição de leitor comum que me impele a insurgir contra aquela porcaria.

Sei bem que existem blogues para todos os gostos, idades e credos. Mas assim não!!! Não me incomoda nada que sítios como esse existam - aliás até acho bem que existam porque assim o contraste entre estes e os bons é ainda maior. Mas permitam-me que diga que acho é uma bodega! Uma ode ao consumismo e à futilidade com textos curtos pejados de falsa modéstia e arrogância burguesa com um ligeiro toque a novo-riquismo. Raquitismo! De escrita e de autoria que se apresenta numa pessoa que nem gosta de crianças porque irritantes e barulhentas, mas que vai casar e está a escolher vestido...

___

Em tempos tive um professor de português que, depois de ter entrado uma maçã a voar pela janela da sala de aula, atirada provavelmente por um qualquer reprovado do ano anterior, exclamou enquanto se baixava para apanhar o fruto já oxidado:

- "Quem é que o vai castigar?... Sou eu!?..."

Na sala, que antes da exclamação já se tinha silenciado com lábios prensados e sorrisos atrás das costas - daqueles sorrisos que antecedem uma gargalhada capaz de esperar meia-hora pelo intervalo para se fazer ouvir inflamada no recreio -, não se ouvia agora nem o riso do atirador de maçãs... "O rapaz se calhar até nem merece castigo nenhum" - pensávamos nós (solidários alunos enfadados)!

Continuou:

-" Quem o vai castigar é a vida! A VIDA!!!!"

Parou-nos a vontade de rir. Logo ali pude avançar alguns anos e admitir que o "sacana" (perdoe-me senhor Professor se estiver a ler isto agora) tinha razão.

___

Este pequeno episódio serve para explicar aquilo que quero dizer. A autora pipoca, a dada altura terá decidido atirar uma maçã para dentro da sala dos blogues. Como o rapaz daquela história, ter-se-á tornado heroína do recreio.

Será que a vida já a castigou por tamanha ousadia!? Se calhar ainda não. E digo que ainda não, porque a sr.ª D.ª Pipoca continua a atirar maçãs.

Também é verdade que ainda não as vi/li todas... Mas acho que ter visto/lido apenas aquelas iniciais, foi suficiente para me aperceber que daquele pomar não saem Granny Smiths, Starkings, Fujis, Reinetas nem Bravo de Esmolfe. Quais frutos da eloquência, saem Piparotes azedos de casca furada, sem sumo e com bicho.


Agora pasmemo-nos ainda mais! A autora do blogue ganhou o concurso online da mulher mais invejada de Portugal! Ai Portugal, Portugal!!!

Quem é que a vai castigar!? Sou eu!?...

Embora não mereça castigo, porque afinal de contas só atira maçãs, ao que parece já teve um ligeiro percalço na vida. A autora Pipoca jornalista é, agora, cronista do 24 Horas.

Ora digam lá se o meu antigo professor de Português tinha, ou não tinha, razão!?

É a vida!

17/11/2009

Olympus Pen

Embora não ache que seja a melhor máquina fotográfica, este anúncio à Olympus Pen deve estar certamente entre os melhores que já vi.

Carlos Tê a voar

Ainda nem tinha começado a ler o Voo melancólico do Melro e o Carlos já me tinha quebrado a defesa com o nome próprio.

Carlos Tê, letrista, poeta, escritor, e sobretudo um gajo esperto, decidiu escrever um livro - acredito que ele não se importe que lhe chame LIVRO - no fim do século passado.


Só agora é que a minha ignorância o descobriu. O Livro. E passados dez anos.

No início (da história, do livro e da idade narrada) o autor criança descreve as brincadeiras. Até aqui tudo normal. Apresenta algumas pessoas, o si próprio Vladimiro e, outra vez, não estranhei.

Na página 14 este grandessíssimo e alternadíssimo Escritor portuense, que só é pena ser portista, parte-me o estatuto de leitor desinteressado e oferece-me este entretanto:

"(...) O peito prometia um canal de delícias como o da Luzia quando se debruçava sobre a canastra de fanecas. Sentia uma pressão na zona do tronco onde a peste da Guiomar afirmava estar a alma. A pressão era agora um tropel de cascos no chão da alma. Doía mesmo. Mas não era uma dor de quando se leva uma canelada; era uma dor boa, que cortava a respiração. E aí pensei no amor, a palavra dos filmes que as personagens invocavam por tudo e por nada. Seria amor, aquela pressão pneumática na zona do tronco onde vivia a alma?"

Ora bolas!!! Sei que há pessoas, escritores e wanna be's, que crêem que para se escrever bem é preciso, para além do jeito, técnica, riqueza vocabular, cultura, investigação, e muito engenho. Enganar-me-ei se disser que este senhor, apenas usou a vontade para escrever isto!?

Há coisas que são mesmo assim. E esta coisa - qual coisa qual quê... é mas é um grande livro é o que é, e ainda nem o li até ao fim - fez-se com outra coisa qualquer que lhe podemos chamar de talento. Mas eu, prefiro chamar-lhe: -"Gaita, sacana que escreves bem que te fartas e aposto que não sabes que o fazes tão bem".

Uma pessoas que diz para nunca se voltar "ao lugar onde já foste feliz"... Ou então que "não se ama alguém que não ouve a mesma canção"... Só podia escrever um livro que ou muito me engano, ou será um dos livros deste minha curta vida de leitor com pouco líquen.


Leia-se o Voo melancólico do Melro. É quase obrigatório. Se calhar foi a "sorte" ou a "sina". Mas agora tenho "um mundo à [mesa de] cabeceira".

Ps: - Senhor Miguel Sousa Tavares, podia aproveitar para conhecer este seu conterrâneo e amigo de bancada!!!