A manhã era nossa. Nossa porque acordámos de noite, de pressa, de facto. Foi nossa.
Arrumámos tudo, expusemos tudo - porque lá vende o mais esperto do mais perto que há.
Naquela Leira da Farda, os cães passaram com a caravana a ladrar, estacionada, até que a senhora reformada voltasse a arrumar o pesado fardo de não ter outra hipótese. Ainda assim, e sempre com respeito, abrimos o peito para mais um pregão - e nunca com pregos no pão que a merenda fez-se de cozido na hora de pausa que interrompeu a causa e o ouvido.
Volvidos reforços e nutrientes, lá fomos nós ver mais clientes e gentes. Nós e os avós - de alguém que se calhar também lá vende - lá demos de caras com o alcatrão marcado a branco e vestido com roupas de marca. Na feira os larápios andam bem vestidos, só que mal dormidos.
Sem tropeçar nas bagatelas, ajeitámos o banco contra as malhas entre os sacos e os azulejos da senhora do cão - Ai, desculpe! Peço perdão! Que horas são!?
- "Isto hoje está fraco!"
O "Isto" era aquilo! Aquilo que para nós foi experiência, para outros paciência, que "isto" é todos os dias quando calha e onde pode. E se chove, quem os acode, tapa-se tudo com ciência escassa, que "isto" já passa e já seca.
Já disse que o chão é inclinado? E se chove fica tudo molhado, mas desce tudo para a rua do lado que até nisso a feira é boa. Especialmente desenhada para calhar mesmo ali. Calhou bem!
Os preçários dependeram dos horários e da boa vontade de cada um. Entre insistentes, desinteressados, apressados, inteligentes, forretas, caretas, sorridentes e desdentados, estivemos lá nós entre os maior parte reformados a trabalhar num sábado que não foi de cama porque não quisemos. Quisemos assim...
... e também fizemos dinheiro.
Acabado o dia, contámos os trocos e voltámos para casa sabendo bem onde isso era. Num outro, que também seja dia, havemos de lá voltar - também porque queremos. E a Feira, garanto, vai lá estar outra vez inclinada à espera de outra levada. E se tudo correr bem, no mesmo sítio marcado a branco da senhora que nunca vem!
1 comentário:
A sapiência de feirante é inclinadamente profunda. Vendem-se ideias, trocam-se palavras, compram-se vivências. Que belas experiências!
Toma lá um abraço. Se quiseres cinco fica ao preço de quatro e ainda levas saco.
P.s. - E não é qualquer feirante que tem por perto um armazém em Beto de luxo! :)
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