20/07/2007

Arqueologia como resposta!

A maior parte das pessoas que me perguntam o que é que eu faço, ou qual é a minha formação profissional, rasga logo um grande sorriso depois de ouvir a resposta: "Sou arqueólogo!" - mesmo que não façam ideia do que isso quer dizer!

Dentro desse grande grupo de indivíduos, destaca-se predominantemente aquele sub-grupo dos pessimistas que depois do tal rasgo de fascínio espontâneo exclamam: "Ééépááá, mas isso não dá para ir logo para o desemprego!?"


Como é que eu hei-de começar por responder!?... -"Pois" parece-me a conjunção mais diplomática para aquelas alturas em que a conversa se despacha com um café de 5 min., não dando sequer tempo à chávena para se habituar ao conteúdo.

Efectivamente não há muitas garantias para o futuro de um Arqueólogo embora o trabalho não falte e mesmo que este não se vista de contracto seguro. Trabalho há sempre. Emprego...

...bem, quanto ao emprego falo depois!


Em relação àquele sorriso sincero da maioria das reacções que observo depois da minha resposta, posso garantir que se baseia na ignorância bem intencionada! Porquê!? Simples. Porque escavar e encontrar "tesouros" é apenas a décima parte do que se faz para se ser Arqueólogo. É apenas a parte melhor da actividade. É apenas o prémio depois da labuta. É, para tentar embelezar um bocado a escrita tipo Alçada Baptista e para acabar com os É's, a mousse de avelã e amoras que se delicia num Marina-Plaza qualquer antes vir a factura.

Há-que fazer investigação; há-que fazer desenhos; há-que fazer relatórios; há-que fazer orçamentos; há-que cumprir prazos; há-que ler outros relatórios; há-que prospectar!...


-"Prospec...quê!?"


Ora aí está! Prospectar. Andar de olhos no chão, qual perdigueiro, à procura de algum indício material de ocupação humana! Procura-se tudo! Recolhe-se quase tudo! e, na maior parte dos casos, não se encontra rigorosamente nada.

Por isso quando me voltarem a perguntar legitimamente - O que é que fazes mesmo!? - e eu responder que sou Arqueólogo, não sorriam logo a pensar que sou um Indiana Jones com olhos postos no Centro de Emprego.


Pensem que sou, em vez daquilo, apenas mais um trabalhador-contribuinte em busca da Arca Perdida (mas sem os efeitos especiais).


3 comentários:

Miss Jones disse...

Vê pelo outro lado... Há de haver quem sorria simplesmente pela admiração de teres escolhido fazer o que gostas em vez de fazeres o que dá dinheiro.
É preciso coragem para fazer uma escolha assim. E mesmo que o entendimento não esteja ao alcance dos demais tu sabes porque o fazes e porque te faz feliz.
No fim do dia é isso que conta!

Anónimo disse...

Olá, Olá,

Sabes o que mais gostei do teu texto? A paciencia que tiveste a explicar, pausadamente, aos sorrisos rasgados o que é ser Arqueólogo. Não te vou mentir... eu tambem rasguei esse sorriso :)
Seja como for, pareces gostar do que fazes e isso é muito, muito bom.
Como ontem não coloquei nenhum post, aproveito hoje para te fazer a malfadada pergunta que ecoa no coração de todos os leões "o que foi aquilo contra o Guimarães?".
Adeus Indiana- trabalhador

Anónimo disse...

Arqueólogo = Metódico, Organizado, Paciente, Atento, Aventuroso, etc...
Em resumo, uma pessoa consciente da sua existência e interacção com os demais, de inteligência aguçada e que pretende mais da vida do que ser um mero numero de contribuinte.

Tenho dito.