21/11/2008

Sismulacro

Caros cidadãos,

Hoje, dia 21 de Novembro de 2008, vamos simular que não estamos em crise! A partir das 15h 00m o país, mais concretamente a área da grande Lisboa vai entrar em crescimento económico súbito até Domingo.

Vamos todos fazer de conta que o capitalismo assente em mecanismos especulativos vai começar a dar frutos, que as grandes empresas vão ganhar ainda mais poder e autonomia financeira, e que alguns senhores dirigentes de grandes bancos e gasolineiras irão retribuir justamente os excelentes investimentos estratégicos e irão devolver dinheiro a todos os seus clientes.

Vamos todos dar as mãos e saudar o capitalismo com "Urras" e "Vivas" e fazer de conta - relembro, até Domingo - que vivemos de forma folgada e próspera.

Portugueses, Simulemos uma vitória económica na Cidade Capital deste rico país.

José Sócrates

- "Pronto, acabei! O que achas desta ideia?"

- "Ó senhor Primeiro Ministro, se me permite... Talvez seja melhor simular um sismo! Sempre testávamos a capacidade de reacção da Protecção Civil, enquanto calávamos muitos cientistas que afirmam há não sei quantos anos que estamos mal preparados para um tremor de terra de grandes proporções! Por outro lado, a ideia não era tão assustadora!"

- "Efectivamente tens razão! Um sismo sempre era mais realista. Para além disso, não tenho a certeza se os Portugueses aguentavam três dias inteiros de felicidade! É que simular tal situação é muito difícil! Então e pomos o epicentro onde? Ali no Banco de Gorringe como em 1755?"

- "Talvez não! Se calhar era melhor uma coisa mais regional! Ali em Benavente como em 1909, por exemplo! Assim limitávamos esforços sem obrigar a Protecção Civil a trabalhar muito, e não incomodávamos turistas algarvios resistentes ao frio. Uma coisa que implicasse só as Câmaras de Santarém, Benavente e Lisboa!... O que é que diz?"


- "Isso mesmo! Óptima ideia! Põe esse plano em marcha e começa já a emitir comunicados! Até calha bem porque como hoje é greve da função pública até nem vamos incomodar muita gente!"

- "E o Senhor Primeiro quer mais alguma coisa?"

- "Não é tudo! Agora deixa-me escrever aqui uma carta ao Major-General Arnaldo Cruz da ANPC a pedir desculpa pelo incómodo, que daqui a bocado vai começar o minuto verde e eu quero ver se não perco a dica de hoje!"

30/10/2008

Ritual Tejo

Pois parece que aqui o rapaz já não aparecia no blogue há já algum tempo. Enquanto recupero da lesão de espírito, aqui fica uma musiquita para suavizar a paragem e antecipar a volta.

Até já

Foram Cardos, Foram Prosas - Ritual Tejo

17/07/2008

Para quem gosta de Pipocas!

Parece que há outra maneira de fazer pipocas!

Se de repente vos der a fome, liguem para o milho. Ele há coisas do caraças...


14/07/2008

A ignorância do Miguel

Há dias, um dos assinantes da Archport - sítio de partilha de informação arqueológica (e não só, mas principalmente) onde às vezes, para além das habituais informações de colóquios, palestras, ofertas e procuras de emprego, se fazem comentários sobre a arqueologia em termos gerais, sobre o seu estado e sobre alguns intervenientes mais ou menos competentes - colocou um excerto de um artigo do Miguel Sousa Tavares sobre a problemática da construção da Barragem do Sabor, relembrando a antiga em torno do Côa!

Eu, que até aí desconhecia totalmente a opinião do senhor Miguel Sousa Tavares acerca de Foz Côa, fiquei estupefacto quando soube que este jornalista ainda tem dúvidas em relação à veracidade histórica e ao valor científico cultural que as gravuras paleolíticas do Côa possuem!

Para quem não saiba, digo que uma escavação relativamente recente no sítio arqueológico do Fariseu veio provar a idade antiga das gravuras uma vez que demonstrou com datação de OSL que um dos níveis arqueológicos que cobriam o painel tinha pelo menos 15 mil anos. Ora se cobria o painel, e uma vez que o princípio da sucessão estratigráfica diz que uma camada que está por cima de outra é sempre mais recente, não restam muitas dúvidas quanto à idade de criação daquele tipo de manifestação artística - única ao ar-livre referente a este período pré-histórico.

Parece que esse tal jornalista se refere às gravuras como "rabisco" supostamente antigos!...

E ainda, pergunto eu, dão cobro a este tipo de posturas reaccionárias e ignorantes por parte de jornalistas que se pressupõem informados?

Caríssimo senhor jornalista Miguel Sousa Tavares, tenho pena que não saia aos seus! E não se preocupe que eu não daqueles bloggers que não assina depois do escrito. Saiba o senhor, que o meu nome é João Araújo Gomes, sou arqueólogo, e estou triste por saber que existem pessoas como o senhor que acham que não vale a pena defender a cultura. Só não estou mais desiludido ainda com a sua posição porque para além de já não ter muitas ilusões, infelizmente, de si não esperava muita coisa! Senão vejamos esta carta de uma professora para Miguel Sousa Tavares a propósito de outro seu artigo, também ele indicativo de desconhecimento de causa:

«Não é a primeira vez que tenho a oportunidade de ler textos escritos pelo jornalista Miguel Sousa Tavares. Anoto que escreve sobre tudo e mais alguma coisa, mesmo quando depois se verifica que conhece mal os problemas que aborda. É o caso, por exemplo, dos temas relacionados com a educação, com as escolas e com os professores. E pensava eu que o código deontológico dos jornalistas obrigava a realizar um trabalho prévio de pesquisa, a ouvir as partes envolvidas, para depois escrever sobre a temática de forma séria e isenta.

O senhor jornalista e a ministra que defende não devem saber o que é ter uma turma de 28 a 30 alunos, estando atenta aos que conversam com os colegas, aos que estão distraídos, ao que se levanta de repente para esmurrar o colega, aos que não passam os apontamentos escritos no quadro, ao que, de repente, resolve sair da sala de aula. Não sabe o trabalho que dá disciplinar uma turma. E o professor tem várias turmas. O senhor jornalista não sabe (embora a ministra deva saber) o enorme trabalho burocrático que recai sobre os professores, a acrescer à planificação e preparação das aulas.

O senhor jornalista não sabe (embora devesse saber) o que é ensinar obedecendo a programas baseados em doutrinas pedagógicas pimba, que têm como denominador comum o ódio visceral à História ou à Literatura, às Ciências ou à Filosofia, que substituíram conteúdos por competências, que transformaram a escola em lugar de recreio, tudo certificado por um Ministério em que impera a ignorância e a incompetência. O senhor jornalista falta à verdade quando alude ao «flagelo do absentismo dos professores, sem paralelo em nenhum outro sector de actividade, público ou privado». Tal falsidade já foi desmentida com números e por mais de uma vez. Além do que, em nenhuma outra profissão, um simples atraso de 10 minutos significa uma falta imediata. O senhor jornalista não sabe (embora a ministra tenha obrigação de saber) o que é chegar a uma turma que se não conhece, para substituir uma professora que está a ser operada e ouvir os alunos gritarem contra aquela «filha da puta» que, segundo eles, pouco ou nada veio acrescentar ao trabalho pedagógico que vinha a ser desenvolvido. O senhor jornalista não imagina o que é leccionar turmas em que um aluno tem fome, outro é portador de hepatite, um terceiro chega tarde porque a mãe não o acordou (embora receba o rendimento mínimo nacional para pôr o filho a pé e colocá-lo na escola), um quarto é portador de uma arma branca com que está a ameaçar os colegas. Não imagina (ou não quer imaginar) o que é leccionar quando a miséria cresce nas famílias, pois «em casa em que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão».

O senhor jornalista não tem sequer a sensibilidade para se por no lugar dos professores e professoras insultados e até agredidos, em resultado de um clima de indisciplina que cresceu com as aulas de substituição, nos moldes em que estão a ser concretizadas. O senhor jornalista não percebe a sensação que se tem em perder tempo, fazendo uma coisa que pedagogicamente não serve para nada, a não ser para fazer crescer a indisciplina, para cansar e dificultar cada vez mais o estudo sério do professor. Quando, no caso da signatária, até podia continuar a ocupar esse tempo com a investigação em áreas e temas que interessam ao país. O senhor jornalista recria um novo conceito de justiça. Não castiga o delinquente, mas faz o justo pagar pelo pecador, neste caso o geral dos professores penalizados pela falta dum colega. Aliás, o senhor jornalista insulta os professores, todos os professores, uma casta corporativa com privilégios que ninguém conhece e que não quer trabalhar, fazendo as tais aulas de substituição.

O senhor jornalista insulta, ainda, todos os médicos acusando-os de passar atestados, em regra falsos. E tal como o Ministério, num estranho regresso ao passado, o senhor jornalista passa por cima da lei, neste caso o antigo Estatuto da Carreira Docente, que mandava pagar as aulas de substituição. Aparentemente, o propósito do jornalista Miguel Sousa Tavares não era discutir com seriedade. Era sim (do alto da sua arrogância e prosápia) provocar os professores, os médicos e até os juízes, três castas corporativas. Tudo com o propósito de levar a água ao moinho da política neoliberal do governo, neste caso do Ministério da Educação." Dalila Cabrita Mateus

Já agora, o Parque arqueológico de Foz-Côa é visitável e está aberto o ano inteiro!

Já o foram visitar!? Ainda não!

É pena.

Quanto a si, Sousa Tavares, dedique-se aos livrinhos! Pelo que ouvi dizer, até nem estão mal escritos! Deixe lá o jornalismo para aqueles que o sabem fazer.

02/07/2008

Homenagem ao Hipopótamo André


Nunca o conheci! Nunca o conheci mas ainda bem.

Foi certamente um herói! Criado por uma heroína que o quis inventar para fazer com que um sorriso se pudesse conjugar apenas na primeira pessoa do familiar presente, o André nasceu antes de mim.

Nunca o conheci mas sei que ele mora na Rua da Certeza, numa casa sem divisões e com apenas um sala de bem-estar que, ainda antes de ser casa, começou por ser apenas uma porta que nunca teve tranca.

Na enorme casa do Hipopótamo André moram três pessoas. Ele, uma pessoa que às vezes nem sabe que ainda lá vive, e outra que saberá sempre que lá vive.
Nunca o conheci! E embora saiba onde ele mora e até o possa dizer a quem me queira perguntar, tenho a certeza que só lá entram duas pessoas.

Também sei que o André é Sincero de apelido e gosta de histórias e de contos.

Para que outros dois a contem sempre que o queiram, aqui fica o início da sua...

É uma vez...


06/06/2008

Parece impossível

Foi com alguma tristeza que saí do Montijo (para os puristas da língua terei saído de Montijo) e que abandonei a cidade que me viu crescer durante cerca de 15 anos.

No entanto não posso deixar de partilhar outro desgosto. Foi com surpresa que encontrei um blogue nacionalista criado por um montijense (atípico - espero!).

Que pena que eu tenho que esse fulano não seja esclarecido!!!

A ele e a todos os nacionalistas desejo as melhoras.

Ainda assim, viva o Montijo

Riam, para não chorar:
http://montijoterraportuguesa.blogspot.com


OS CRIMINOSOS

Augusto morava longe. Muito longe. Quase tão longe como a distância que fica entre a cama e a porta de casa quando tocam à campainha num domingo de manhã, e só lá está o sono para ir ver quem é. Morava mesmo muito longe.

Era portanto normal que outros lhe dissessem, quando ele os olhava, que estava sempre distante, quase aéreo. Mas no fundo Augusto era aviador. Gostava de voar.

Nenhum mundo tem planetas. Nenhuma lua tem mundos. Mas Augusto passava lá a vida. Augusto era astronauta. Gostava de voar. Gostava de viajar. E tanto viajava ele, sem dinheiro, e sem se mexer.

Anabela era mulher de Augusto, e, embora não quisesse, era ela que tinha de organizar todas as viagens do marido, sem precisar de lhe perguntar onde queria ir. Ela sabia-o melhor que ninguém. Sentava-se ao lado dele, colocava-lhe o cinto de imaginação, e conduzia-o para todos os sítios dos mesmos dias.

Augusto, sempre o mesmo, viajava sem destino nem rota. Anabela, decidia a que horas ele voltava...

O Café da Prata, lugar de convívio de que haviam sido donos, teve, a certa altura, de ser vendido para que fosse possível comprar a cadeira de rodas eléctrica de Augusto.

Ele tinha estacionado o corpo ao lado da tristeza depois daquele acidente de viação quando levava Anabela a Badajoz para fazer um aborto. Augusto nunca mais foi o mesmo. Nunca mais andou. Ela, tornou-se-lhe a companhia nas viagens de literatura narrada, e ele, imóvel, só era o que queria, naquela meia hora de leitura chorada que Anabela forçava, para deixar de se sentir culpada, criminosa...

Todos os dias Augusto fugia da prisão do si durante meia hora, e tornava-se piloto alguém para toda vida. Daqueles que conduzem depressa numa pista de círculos, e não são presos pelo remorso, de ver que o crime lhes é apontado.

Augusto morava longe. Muito longe. Quase tão longe como a distância que fica entre o rés-do-agora-são e o seu primeiro andar.

04/05/2005

12/05/2008

Idade do Velo

Já se sentem estalares de osso
No estrato prumo das decisões.
Já se sentem as articulações
Quando me estico ou me baixo
ou me massajo no pescoço.

São já tão curtos os espaços de tento
São já tão breves as ilações
Que se me sento ou me levanto
Para ver se encontro sentimento
Sinto a correr pelas veias do espanto
Outra corrente sanguínea de vento
Que me sopra na artéria lições.

Prefiro que a circulação
De sangue e de momento
Se processe sem lamento
Ainda que me doa a criação
E as pernas...
E os braços...
E os olhos...
E a noção.